Azia

Que é azia?

Também chamada pirose, a azia é o retorno do conteúdo do estômago, que reflui pelo esôfago, ocasionando a desagradável sensação de ardor.

O ácido presente no estômago, a saber, o ácido clorídrico (HCl), que participa da digestão das proteínas, é tão forte que é usado em metalurgia para limpar metais. O estômago, em contrapartida, produz uma substância que protege sua mucosa contra a ação abrasiva do ácido, a mucina. No esôfago não existe essa mesma proteção. Quando o conteúdo do estômago reflui, não é de admirar que se sinta queimação insuportável, que é a azia ou pirose

Causas

Várias podem ser as causas. Uma das principais é realmente o abuso alimentar. Comer demais e ainda “alimentos” inadequados, em combinações impróprias, é a causa-mãe dos distúrbios digestivos. Muitos pensam que seu estômago age como um triturador de lixo. Comem qualquer coisa, a qualquer hora, sem a mínima preocupação com o que acontece silenciosamente lá dentro. Quando vêm a azia e a má digestão, tomam antiácidos ou “remédios digestivos”, muitas vezes denominados “naturais”. A causa do problema, a gula, não é atacada. Continuará agindo e minando a energia vital, até surgirem doenças mais graves.

O excesso de acidez no estômago pode muitas vezes encontrar-se relacionado a desordens, como a gastrite e a úlcera, ocorrendo regurgitações ácidas.

A hérnia do hiato, em que o esfíncter esofágico (uma espécie de válvula que separa o estômago do esôfago) funcio­na mal, também ocasiona refluxo e azia, com conseqüente esofagite. O líquido que o estômago produz na digestão de­ve ser ácido (pH ácido) para que as enzimas degradadoras de proteínas possam atuar. Quando se come em excesso, ou se ingere muita gordura, proteína, café, chocolate, lanches ligeiros, açúcar etc., abre-se o caminho de problemas digestivos que resultam em azia. Distúrbios da vesícula também podem levar à azia. Fumo e álcool contribuem para o seu aparecimento, pois irritam o estômago.

Deitar após a comida pode favorecer a azia até porque a gravidade ajuda o conteúdo a refluir. Pessoas suscetíveis devem evitar fazê-lo.

Tosse e cárie dentária provocadas pela azia

Recente pesquisa, conduzida pelo Dr. Patrick Schoroeder, da Universidade do Alabama, demonstrou que as regurgitações ácidas da azia que chegam à boca podem provocar danos aos dentes, favorecendo o desenvolvimento de cáries.

A azia também pode provocar irritação da laringe e tosse. Há casos de tosse crônica, rebelde aos tratamentos usuais, que nada mais é que resultado do refluxo gástrico, ou azia.

Conselhos gerais

Corrigir a alimentação é, na maioria das vezes, a principal providência. Sobre isso falaremos mais amplamente no próximo tópico.

Os obesos devem perder peso, e só isso já lhes poderá proporcionar significativa melhora dos sintomas da azia. Na hérnia hiatal, freqüente em pacientes gordos, o estômago e o esôfago são espremidos e afastados de sua posição correta, em parte pela debilidade dos músculos tóraco-abdominais, que deveriam protegê-los, e em parte pela pressão do peso extra.

Exercícios moderados, com vistas ao fortalecimento da cintura muscular, são recomendados. Evitar roupas e cintos apertados. Ao pegar peso, não dobrar a barriga, mas os joelhos. Não fazer exercícios logo após a comida, e evitar, no começo, movimentos extenuantes.

Certos medicamentos podem agravar o quadro de azia. Entre eles, determinados sedativos e antidepressivos.

A ansiedade e o estresse são vilões quase sempre presentes. Encarar os problemas com serenidade é um elevado nível mental a que todos devemos primar por atingir.

O cigarro exerce efeito altamente deletério sobre o esfíncter que separa o estômago do esôfago, propiciando a movi­mentação do ácido gástrico para cima. Para os que fumam, largar esse vício pode ser o único e suficiente meio de aliviar a azia.

O álcool é outra causa ativa de má digestão e azia.

Azia — sintoma de úlcera

A azia que persiste, mesmo depois de mudados os hábitos que mais diretamente se relacionam com seu aparecimento, pode ser indício de úlcera ou da presença de H. pylori, uma bactéria. Quando a azia acontece antes das refeições é mais provável que se trate de úlcera. Somados à azia, sintomas como fezes sanguinolentas ou escuras e vômito com sangue, merecem imediata avaliação médica.

Regras de ouro para alimentação dos pacientes de azia

1. A recomendação número 1 é comer menos e mastigar bem mais.

Certa vez, um paciente de azia contou-nos que já havia tentado tudo, mas com pouco resultado. Alimentava-se corretamente, com produtos naturais. Não usava frituras e era vegetariano. Que havia de errado na sua alimentação? Finalmente descobriu. Ao recorrer ao simples expediente de reduzir a comida mais ou menos à metade, sentiu grande diferença já nos primeiros dias: a desagradável regurgitação ácida não veio. Isso explica por que muitos desenvolvem problemas digestivos, como hipercloridria: comem em excesso e ainda bebem às refeições. Diminuir, portanto, a quantidade de comida (não é necessário reduzi-la à metade, senão por alguns dias), mastigar bem, comer sem pressa.

2. Tomar água ou outros líquidos somente meia hora antes ou duas horas após as refeições. Mesmo os líquidos devem ser tomados devagar.

3. A última refeição deve ser leve, várias horas antes de dormir. Nunca se deve comer e deitar.

Inimigos dietéticos de quem tem azia

O chocolate é um dos piores inimigos de quem tem azia. Evitar alimentos ácidos e acidificantes, combinações impróprias, frituras, carnes, pimenta, vinagre, açúcar, queijos, café, guaraná e bebidas gasosas.

Na fase aguda, convém evitar também frutas ácidas, como laranja, abacaxi, limão e caju. Cremes, maioneses, molhos e temperos podem favorecer a manifestação da azia; evitá-los. Recomenda-se dieta saudável. Alimentos gordurosos e açucarados precisam ser evitados. Esses alimentos estimulam a produção de ácido e, como se isso não bastasse, relaxam o esfíncter esofágico, facilitando o refluxo do conteúdo gástrico.

Comer com moderação. Abster-se de lanches ligeiros (fast-food). Não abusar do sal. O leite pode dar sensação de bem-estar logo ao ser ingerido, mas sua proteína, gordura e cálcio acabam aumentando a secreção de ácido.

Alimentos ou bebidas muito quentes, como chimarrão, ou frios, como sorvetes, são contra-indicados. Em síntese, todo alimento que favoreça a produção de ácido e as fermentações tende a diminuir a resistência orgânica, pois sobrecarrega o metabolismo (que é o caso da maioria dos alimentos modernos, produzidos só por motivos comerciais, e alimentos de origem animal). Precisa ser evitado. Misturas impróprias podem ocasionar fermentação e acidez.

A idéia de que para “tamponar” ou “neutralizar” o excesso de ácido no estômago é preciso comer freqüente­mente, ou tomar muito leite, é repu­diada pela trofoterapia natural. Deve-se comer a intervalos regulares e mastigar muito bem.

Bebida antiácida (ou alcalinizante)

Muito usada em clínicas naturistas européias, essa bebida, à base de sementes e tubérculos, traz resultados bem animadores no caso de hipera­cidez digestiva. Há inúmeras experiências de pacientes de gastrite, úlcera e azia que conseguiram curar-se com o uso perseverante dessa bebida, somado aos demais cuidados dietéticos. Graças às mucilagens e princípios inibidores da se­creção ácida (como a solanina, da bata­ta), age eficazmente como tamponante dos ácidos.

Como preparar: Deixar de molho, à noite, duas colheres, das de sopa, de linhaça e três colheres, das de sopa, de farelo de trigo em 700ml de água. De manhã, cozinhar durante meia hora, para que se transforme em mucilagem espessa. Coar e misturar com o decocto de batata, conforme explicamos em seguida.

Decocto de batata: cortar em fatias 250g de batata crua (mais ou menos duas batatas médias), com a casca (lavada e escovada). Pôr para cozinhar em fogo brando, em 700 ml de água, durante meia hora. Passar, então, em peneira fina, a batata juntamente com a água e misturar com a mucilagem anterior.

Como usar: Mexer bem e tomar em lugar do desjejum, ensalivando bem, mais ou menos a metade de todo o conteúdo. Guardar em refrigerador o que sobrar. A outra metade poderá ser tomada meia hora antes do almoço, ou na parte da tarde. O plano de alimentação deve seguir as instruções aqui já ministradas.

Casos mais severos poderão exigir o seguinte programa: Tomar, de duas em duas horas, aos goles, ensalivando bem, 200ml dessa mistura. Preparar, nesse caso, o dobro da quantidade que aqui especificamos.

Sugestões naturais:

Alface — Tomar duas ou três colheres, das de sopa, de suco de alface antes do almoço.

Batata — Escolher quatro batatas grandes, lavar, descascar, ralar e espremer o suco com auxílio de um pano. Beber o suco imediatamente: 150ml duas a três vezes ao dia, meia hora antes das refeições.

Beldroega — Preparar três colheres, das de sopa, de suco de beldroega e misturar com chá de tanchagem, de modo que se obtenha meia xícara. Tomar aos goles, morno, duas a três vezes ao dia.

Couve-flor — Comer couve-flor cozida, sem tempero, em refeições “leves”. A água do cozimento deve ser tomada ao longo do dia, entre as refeições.

Lima — Chupar lima em jejum ou tomar o suco.

Limão — Tomar algumas gotas de suco de limão diluído em água, algumas vezes por dia (o limão age como alcalinizante no metabolismo). Longe das refeições.

Melancia — Fazer refeições só de melancia, esporadicamente.

Mamão — Fazer refeições só de mamão, esporadicamente.

Antiácidos

Os antiácidos encontrados em qualquer farmácia são largamente receitados contra a azia. Sabe-se, porém, que trazem apenas alívio temporário. É preciso, como já explicamos, remover as causas, com destaque para a mudança do hábito alimentar.

Antiácidos contendo compostos de alumínio podem provocar grandes perdas de cálcio, resultando em dores e diminuição da massa óssea.

No mercado de produtos naturais há antiácidos à base de ácido algínico, derivado de algas marinhas. Segundo um artigo publicado na revista Lancet (26 de janeiro de 1974), a algina cria uma proteção gelatinosa que flutua sobre a superfície do conteúdo gástrico. Podem-se usar diariamente um ou dois comprimidos de alginato de sódio, seguidos de um pouco de leite misturado com dolomita ou óxido de magnésio. Recomendamos que se estudem as causas. Observar orientação médica.

Outros procedimentos

Aplicação lombo-abdominal de argila, diária (duas horas). Tomar água argilosa várias vezes ao dia também é indicado. Modo de preparar: Adquirir, em lojas de produtos naturais, argila fina, própria para uso interno. Misturar com 500ml de água (de preferência água imantada) quatro colheres, das de sopa, de argila. Misturar bem e deixar de molho durante a noite. De manhã, filtrar em peneira fina ou pano limpo. Tomar durante o dia três ou quatro xícaras pequenas.

A fornalha do estômago deixa escapar labaredas esôfago acima. Para apagar o fogo os “bombeiros” do mundo dos fármacos usam e abusam de antiácidos. Mas o incêndio volta, e mais amea­çador. Na pirose (piros, fogo) ou azia, não adianta só abolir o mal-estar cada vez que se manifesta. O tratamento correto requer parada para averiguação das causas, a fim de se efetuar combate eficaz.

Estômago

Dieta terapêutica natural

Para aliviar a azia, descongestionar o aparelho digestivo e o organismo, sugere-se um programa como o seguinte, que deve ser ajustado a cada caso por um profissional:

Do primeiro ao terceiro dia adotar desjejum exclusivo de bebida antiácida; lanche de maçã ou lima-da-pérsia; almoço de purê de batata com legumes cozidos e um pouco de cenoura crua ralada; lanche e jantar de maçã ou lima-da-pérsia. Mas não comer demais. Mesmo as frutas e os legumes, em excesso, podem trazer hiperacidez. Sair da mesa com ligeira vontade de comer mais um pouquinho.

No quarto dia passar com líquidos (manter repouso):

7h — bebida antiácida.

10h — suco de lima.

13h — suco de cenoura.

16h — suco de laranja-lima.

19h — suco de mamão.

Tomar os sucos de canudinho, devagar.

No quinto dia tomar bebida antiácida de duas em duas horas. Manter total repouso.

No sexto e sétimo dias fazer a seguinte dieta: No desjejum, bebida antiácida; no jantar, comer primeiro uma ou duas maçãs, em seguida duas ou três fatias pequenas de mamão e por último duas a quatro bolachas de arroz integral ou torradas de pão integral. Antes do almoço, tomar meio copo de suco de cenoura. O almoço deve ser leve, com arroz integral bem cozido, tofu e legumes cozidos como abóbora, vagem, couve-flor cozida ao vapor etc. Nos intervalos, havendo fome, frutas como lima-da-pérsia, ou mamão, ou maçã.

Do oitavo ao décimo dia:

Meia hora antes do desjejum: bebida alcalinizante.

Desjejum: Frutas picadas com cereais, sementes de girassol e coalhada magra. Mastigar bem. Comer quantidades pequenas. Dia sim, dia não, substituir o desjejum pela bebida antiácida.

Almoço: Cenoura crua, batata e legumes cozidos.

Jantar: Uma só qualidade de fruta: maçã, pêra, pêssego, mamão, com duas ou três bolachas de arroz integral ou torradas. Pode-se também tomar suco de maçã e mamão bem batidos (com água).

Nos intervalos, havendo fome, frutas como lima-da-pérsia, ou mamão, ou maçã.

Recomenda-se usar, no intervalo das refeições, para evitar fermentações, 2 ou 3 comprimidos de carvão vegetal, à venda em lojas de produtos naturais. Mas não usar carvão vegetal por mais do que uma ou duas semanas. É preferível tomá-lo só quando houver fermentação ou azia. É muito eficaz.

Não esquecer a regra áurea do combate à azia: comer menos e mastigar mais.

Plantas e outros recursos naturais

Várias plantas — Chá de espinheira-santa com sálvia e camomila por cinco dias. Em seguida hortelã com poejo e cavalinha por mais cinco dias. Finalmente, bardana com funcho por mais cinco dias. Como preparar e usar: Misturar as plantas (uma colher, das de sopa, das ervas para 300ml de água. Ferver e coar). Deixar ferver por cinco minutos. Tomar três xícaras ao dia, longe das refeições, aos goles, pequena quantidade por vez (120ml). Tomar à temperatura ambiente. Nunca tomar chá quente no caso de azia.

Alcaravia — Uma colher, das de café, de sementes em uma xícara de água quente. Deixar ferver. Filtrar e adoçar com um pouquinho de mel. Beber morno, uns goles, após as refeições, ou quando a azia se manifestar.

Carvão vegetal — Em nossa clínica verificamos que o carvão vegetal, em comprimidos, é muito útil no tratamento de distúrbios digestivos, como a hipercloridria. Usam-se dois a quatro comprimidos após as refeições, por não mais do que uma ou duas semanas ou sempre que a azia se manifestar.

Enzimas naturais — As enzimas naturais, vendidas no mercado na forma líquida ou de comprimidos, são úteis nas azias relacionadas com processos fermentativos crônicos. Tomar juntamente com as refeições, perto do fim.

Erva-dos-gatos — Nos Estados Unidos usam-se, contra a acidez gástrica, as folhas e os botões da erva-dos-gatos (ou gatária), na forma de infuso (derramar água fervente sobre a planta), misturada com funcho (Nepeta cataria). É uma das plantas usadas há mais tempo, por diferentes culturas, contra distúrbios digestivos que produzem hiperacidez. Dose tradicional: Uma colher das de sopa (da parte da planta que fica acima do solo) para 300ml de água, em infusão. Dividir ao longo do dia, em pequenas porções.

Gengibre — Cápsulas da raiz de gengibre, tomadas na dose de uma ou duas após as refeições, vêm exibindo bons resultados.

Hortelã com camomila — Outra mistura muito útil no tratamento de males digestivos é a hortelã. Podem-se misturar hortelã e camomila. Preparar o infuso e tomar duas ou três xícaras, com 150ml, ao dia.

Mesocarpo de babaçu — Em jejum, tomar uma colherinha de mesocarpo de babaçu misturado em um pouco de água. Em seguida, tomar, aos goles, uma xícara de chá de espinheira-santa com cavalinha (uma colher, das de sopa, das ervas para 250ml de água; ferver e coar).

Vinagre de maçã — Em alguns casos (quando há hipocloridria ou falta de ácido no estômago), uma pequena dose de vinagre de suco de maçã ajuda no combate à azia. Diluir uma colher das de café em um pouquinho de água e tomar durante as refeições, bem devagar.

A rouquidão persistente deve ser avaliada por um médico.

Você sabia?

É indicado para combater dispepsias, cólicas flatu­lentas, catarro crônico e rouquidão.

Modo de usar: Misturar 3 xícaras de óleo de cozinha, 1 xícara de gengibre picado e 1 xícara de alho cortado. Aqueçer a mistura em fogo baixo por 10 minutos. Coar. Aplicar ainda morna na região dolorida. Cobrir com flanela.

Gengibre (Zingiber officinale)