
Que é esquistossomose?
É uma parasitose provocada pelo Schistosoma mansoni, S. haematobium e S. japonicum. No Brasil é mais comum o S. mansoni, um trematódeo digenético. Os vermes infectam o sistema circulatório do homem, produzindo diferentes distúrbios em órgãos como fígado, baço, intestino e pulmões.
Como se “pega” essa verminose? Qual seu ciclo evolutivo?
Tomar banho numa lagoa ou rio de água contaminada pode sair caro. Seres vivos quase microscópicos, chamados cercárias, trazem consigo todo o potencial destrutivo de uma doença que pode assumir proporções graves, a esquistossomose. Quase imperceptivelmente as cercárias entram através da pele. Veja em seguida como isso acontece.
O homem doente elimina pelas fezes os ovos do verme. Esses ovos precisam chegar à água (lagoa, córregos, rios), onde liberam outra forma evolutiva, o miracídio. Mas para que tudo corra bem para o verme, devem existir condições ambientais favoráveis, próprias de regiões tropicais, como temperatura superior a 28º C, água bem oxigenada e abundância de luz. O miracídio é capaz de nadar à procura de um caramujo especial, do gênero Biomphalaria. Não encontrando o caramujo, ele morre. Mas os que penetram no molusco, pelas suas partes moles, transformam-se em esporocisto e migram para as suas glândulas digestivas, onde se convertem em cercárias. Cada miracídio pode liberar cerca de 300.000 cercárias! Mais ou menos um mês depois da penetração do miracídio começam a sair do caramujo milhares de cercárias, geralmente nas horas mais quentes do dia. Às vezes, a concentração de cercárias é tão grande no molusco que ele morre. Já no meio líquido as cercárias, de proporções microscópicas, nadam à procura de sua vítima, um ser humano que inadvertidamente entre em água contaminada. As cercárias se fixam na pele através de suas ventosas e pequenos ganchos. Produzem enzimas que ajudam a destruir os tecidos duros da pele e facilitam sua penetração. Bastam 15 minutos para que estejam dentro do corpo humano. No esforço de penetração perdem a cauda, transformando-se no esquistossômulo. Da pele passam à circulação, por onde chegam ao coração e aos pulmões. Do ventrículo esquerdo dirigem-se a todo o corpo. Mas o objetivo é a veia porta, no fígado, e só os que ali chegam conseguem sobreviver. No sistema porta (fígado) os esquistossômulos se alimentam e crescem, tornando-se adultos dentro de 30 dias. Daí vão para o plexo hemorroidário, ou veia mesentérica inferior, onde põem os ovos. O ciclo se reinicia, então, quando os ovos são eliminados pelas fezes e novamente caem na água. Os ovos aparecem nas fezes cerca de 40 dias depois da penetração da cercária através da pele.
Sintomas
Um dos primeiros sinais de que aconteceu a infecção é a chamada dermatite do nadador ou dermatite cercariana, que se manifesta a partir do momento que as cercárias penetram na pele, dentro da água. Produz sensação de comichão e urticária. Depois de 24 horas ocorre avermelhamento, inchação, pequenas pápulas e até dor. Essa manifestação pode ser muito intensa em pessoas sensíveis.
Cerca de 50 horas depois pode haver febre, aumento de gânglios, aumento do baço e sintomas pulmonares que podem provocar confusão com doença de pulmão. Há, entretanto, casos em que os sintomas são leves. Tudo vai depender do número de vermes que penetram no organismo e da reação de cada indivíduo.
Vinte a vinte e cinco dias depois o quadro que comumente se observa é muito parecido com hepatite.
Chegando ao seu destino, o sistema porta, os vermes vivos podem não produzir, ao longo de anos, sintomas dignos de nota. Mas os vermes mortos podem provocar reações inflamatórias sérias, relacionadas à obstrução de veias do sistema. Pode haver extravasamento de líquido para a cavidade peritoneal, com conseqüente ascite (barriga-d’água).
Os vermes adultos “sugam” do hospedeiro significativa parte de seus nutrientes. Consomem até 2,5mg de ferro por dia, produzindo anemia.
Trinta e cinco a cento e trinta dias depois da penetração da cercária começa a postura de ovos, e esse é o grande causador de problemas: inúmeros ovos colocados todos os dias pelo verme. Podem ocorrer hemorragias, edema, ulcerações, inflamação nas regiões do intestino, fígado e outros órgãos. Uma das reações mais comuns é o chamado granuloma, processo inflamatório que acontece em volta do ovo do verme, onde é comum verificar-se necrose, ou destruição de tecidos. Esse processo pode evoluir para a cura, quando se forma um nódulo duro ou há reabsorção do material. Pode haver vários granulomas no intestino e fígado, ou apenas alguns poucos, isolados.
Muitos pacientes morrem de esquistossomose aguda, quando os granulomas de que acabamos de falar evoluem rápida e consumptivamente. O paciente exibe mal-estar, febre, rápido emagrecimento, diarréia, manifestações alérgicas, tosse, aumento de gânglios e baço. Como esses sintomas aparecem semanas e até meses depois da infecção, torna-se às vezes muito difícil definir o diagnóstico.
Mas em muitos casos os sintomas são discretos e a doença evolui, como explicamos, para a fase crônica. Há casos em que o doente nunca toma ciência de que é portador dessa verminose, que coexiste pacificamente com seu organismo.
Esquistossomose crônica
Desenvolve-se ao longo de muitos anos e pode apresentar múltiplas manifestações clínicas.
No intestino pode haver episódios de diarréia, desconforto à evacuação e dores abdominais, ou pode ocorrer o contrário: um período de prisão de ventre. Esses sintomas podem surgir em intervalos, passando longo período sem qualquer manifestação. Quando os ovos passam para a luz intestinal em grande número produzem o episódio de diarréia muco-sanguinolenta.
As lesões mais importantes podem acontecer no fígado. É possível que esse órgão sofra, ao longo de anos, fibrose. O sistema porta torna-se congestionado, havendo extravasamento de líquido para a cavidade (barriga-d’água). O baço aumenta de tamanho. O organismo tenta compensar a obstrução da circulação hepática apelando para a circulação colateral. Surgem, então, dilatações e varizes nos vasos locais, entre as quais as varizes esofagianas.
A literatura médica refere casos de localizações estranhas para os granulomas do esquistossoma, como os pulmões. Ali eles podem ocasionar congestões circulatórias que acabam dificultando o trabalho do próprio coração, produzindo insuficiência cardíaca. Do pulmão os ovos passam à circulação geral e se instalam em diferentes partes do corpo, como no sistema nervoso central.
Outros locais possíveis para a instalação dos ovos e formação de granulomas são: testículos, ovários, apêndice cecal e pâncreas.
Produtos liberados pelos ovos produzem reações antigênicas no organismo, sensibilizando rins, pele e pulmão, como uma forte resposta alérgica.
Prevenção
Considerando a elevada possibilidade de complicações e as dificuldades do tratamento, investir em profilaxia é, sem dúvida, o melhor meio de controle da esquistossomose. O primeiro passo rumo à prevenção é promover a educação pró-saúde da sociedade. Em regiões endêmicas o assunto deve ser abordado nas escolas e explicado à comunidade por monitores. Urge esclarecer o povo sobre os riscos e os cuidados de prevenção, já que, em grande parte, o preocupante alastramento dessa verminose é resultado da ignorância.
Para prevenir, também são necessárias as seguintes providências:
1. Saneamento básico: Instalação de fossas e esgotos apropriados. Não permitir que os esgotos corram para os mananciais.
2. Controle da população de caramujos hospedeiros e destruição das cercárias, responsabilidade das autoridades sanitárias.
3. Não tomar banho em rios ou lagos, especialmente se a qualidade da água não é confiável, ou se há casos de esquistossomose no local. Sempre que esgotos caem na água é contra-indicado o banho.
As possibilidades de manifestações clínicas, são, como vimos, muito variadas. Há casos de manifestações graves e casos em que a doença quase não produz sintomas. Os estudiosos acreditam que pelo menos dois fatores interferem no padrão de manifestações:
1. A quantidade de cercárias que penetram no corpo. Se há freqüentes re-infestações (banhos freqüentes na mesma água contaminada), o número de vermes que entra no corpo é muito grande, e a doença se manifesta, às vezes, de forma grave.
2. A resistência imunitária do corpo do doente. Em pessoas dotadas de boas condições nutricionais e imunitárias a doença costuma evoluir benignamente, ou pode até não evoluir.
O tratamento convencional deve, quanto antes, ser administrado com muito critério, por profissionais experientes. Usam-se medicamentos como o mansil (oxaminiquine) e o hycanthone. O aminonitrotiazol produz reações secundárias muito tóxicas no sistema nervoso central, como alucinações, e vem, por isso, caindo em desuso.
Os tratamentos naturais têm por objetivo principal fortalecer a resposta imunitária e melhorar as condições nutricionais do paciente. Por isso indicam-se alimentação correta e complementos vitamínico-minerais apropriados.
Primeiramente recomenda-se a desintoxicação, como sugerida em seguida:
Não havendo contra-indicação nutricional e médica, alguns dias de dieta de fruta. Comer frutas, como a maçã ou a uva, a cada três horas, o suficiente para “matar a fome”.
Se houver ascite, poderá ser contra-indicado o uso excessivo de líquidos. Nesse caso, sugerem-se três refeições como as seguintes: desjejum de coalhada com frutas picadas, sementes de girassol e cereais. Almoço de saladas cruas, com brotos, vegetais cozidos, arroz integral, grão-de-bico, tofu. Jantar de frutas com torradas. Uma hora antes da primeira refeição (ou em lugar dela), 50ml de bebida alcalinizante.
Em seguida adotar por uns sete dias a seguinte dieta:
Uma hora antes da primeira refeição, bebida alcalinizante.
Desjejum: frutas picadas, como mamão, maçã, pêra e banana-prata. Pode-se tomar um pouco de coalhada.
Almoço: saladas cruas à vontade (lavar muito bem), abóbora, brócolis com outros legumes cozidos, arroz integral e tofu.
Jantar: frutas (mamão, maçã, figo ou pêra) com bolachas de arroz integral ou torradas de pão integral e algumas amêndoas ou sementes de girassol.
Adotar, então, dieta saudável. Substituir pelo menos uma refeição (como o desjejum), dia sim, dia não, por fruta.
Cura de limão:
Alguns estudiosos da alimentação natural indicam a “cura de limão” como auxiliar na desintoxicação, entre os quais o Dr. Alberto Seabra.:
1º dia – um limão.
2º dia – dois limões.
3º dia – três limões.
4º dia – quatro limões.
5º dia – cinco limões.
6º dia – quatro limões.
7º dia – três limões.
… e assim por diante até voltar a um limão. Diluir sempre em água.
No Brasil há cerca de 10 milhões de pessoas com essa doença, que o povo chama de “xistose” ou “barriga-d’água”. Trata-se, pela sua freqüência e gravidade, de uma das mais importantes verminoses humanas.
Tratamento
Plantas
Como depurativo, indica-se a seguinte mistura: alcachofra, taiuiá, sete-sangrias, chapéu-de-couro, boldo, losna e dente-de-leão. O decocto, uma a duas xícaras ao dia, conforme o caso. Em caso de ascite, não tomar muito chá. Uma colher, das de sopa, das ervas para 300ml de água. Ferver e coar.
Banhos e compressas:
Banhos de tronco, tomados em dias alternados ajudam a aliviar a congestão abdominal. Mas não se deve friccionar o abdome, senão levemente, com a mão. Compressas de argila são também tradicionalmente indicadas: duas horas por dia, no abdome.
Advertência
Por tratar-se de verminose que se manifesta de diferentes maneiras, às vezes com significativa gravidade, recomendamos que se observe rigorosamente orientação médica.