
As meninges
As meninges são três camadas membranosas que forram o sistema nervoso central, entre as quais circulam fluidos, formando uma espécie de acolchoado líquido, tendo, entre outras funções, proteger essa parte tão nobre do corpo, e amortecer eventuais choques. De fora para dentro, encontramos a dura-máter, a camada mais resistente, a aracnóide, a intermediária, e a pia-máter, a mais fina, que adere ao encéfalo como um fino envoltório de plástico transparente. Entre as meninges, se intercalam duas câmaras: a cavidade subdural e a cavidade subaracnóidea. Esta última se comunica com os ventrículos cerebrais, e contém o líquido cefalorraquiano (LCR).
Causa microbiana
Na maioria das vezes, a meningite é causada pelo meningococo (bactéria). Os temidos surtos de meningite são geralmente causados pelo meningococo (meningite meningocócica). Mas até bacilos que acompanham a gripe podem desencadeá-la. O pneumococo também pode ser um agente causador. No caso de Joãozinho, que acabamos de ilustrar, a brusca queda de resistência orgânica provocada pela exposição ao frio e à chuva precipitou o aprofundamento da infecção auditiva, ainda não totalmente curada.
O Streptococcus pneumoniae causa de 30 a 50% dos casos em adultos (meningite pneumocócica). O Neisseria meningitidis causa até 40% dos casos em crianças, e 30% dos casos em adultos (meningite meningocócica), e o Hemophilus influenzae tipo B é culpado por até 45% dos casos em crianças, mas é muito raro em adultos.
Os estreptococos e os estafilococos, muito resistentes aos antibióticos, também podem alcançar as meninges, infectando-as.
Adiante falaremos das meningites virais.
Que é meningite? Quais os sintomas?
Trata-se de inflamação das meninges (pia-máter e aracnóide), do líquido dos ventrículos cerebrais e do líquido do espaço envolvido pelas meninges. Meninges são membranas que revestem o encéfalo e a medula espinhal. Como vimos, essa inflamação é provocada por microorganismos, como bactérias, fungos ou vírus. Há alguns germes que têm particular predileção pelas meninges, como o meningococo. Mas qualquer microrganismo que ataque o corpo humano e alcance as meninges pode provocar essa doença. Como o espaço sob as meninges é contínuo ao redor do cérebro, da medula espinhal e dos nervos ópticos, qualquer agente de infecção ou célula tumoral que invada esse espaço pode espalhar-se rapidamente por todas as estruturas irrigadas pelo líquido cefalorraquiano.
A meningite é mais comum em crianças, mas pode atingir adultos.
Os sintomas são: febre (muitas vezes alta), dor de cabeça (que pode se tornar contínua e violenta, e aumentar com os espirros e a tosse), convulsões, vômitos, distúrbios de consciência (confusão mental), torpor, agitação, rigidez de nuca, rigidez nas costas. Para evitar o estiramento doloroso das raízes dos nervos da medula espinhal, o corpo assume estranhas posturas, como defesa contra a dor. Uma delas é a chamada “opistótono”, também verificada no tétano, em que ocorre a hiperextensão generalizada dos músculos do corpo, com simultânea contratura dos músculos paravertebrais e da nuca. O corpo fica duro como uma tábua, recurvado para frente e a cabeça para trás. Nas meningites avançadas, o corpo pode assumir a posição de “cão de fuzil”, em que a cabeça fica esticada para trás e o resto do corpo encolhido. Os distúrbios de consciência oscilam entre sonolência e grande agitação física e mental. Após um período de semiconsciência, o paciente pode entrar em coma e vir a falecer.
Muitas vezes a meningite é precedida de infecção respiratória. Cerca de metade dos casos de meningite meningocócica apresenta erupções na pele, caracterizadas por grandes equimoses (hemorragias sob a pele), principalmente nas porções inferiores do corpo.
A meningite pneumocócica é muitas vezes precedida por infecção pulmonar, do ouvido ou dos sinus (sinusite).
Alcoólatras, pessoas que sofreram fratura na base do crânio, pacientes que tiraram o baço (esplenectomia) e doentes de anemia falciforme podem mais facilmente desenvolver meningite por pneumococos.
A presença de febre (mesmo que não seja alta), somada a letargia, dor de cabeça e estado de confusão mental, que aparece subitamente, constitui um quadro muito suspeito, merecendo imediata averiguação do líquido cefalorraquiano.
Crianças pequenas podem ter meningite pelo Hemophilus influenzae, como complicação de otite ou outra infecção das vias respiratórias superiores.
Para que haja segurança no diagnóstico, é preciso fazer punção lombar, a fim de se examinar a presença de bactérias no líquido cefalorraquiano (LCR).
É preciso salientar que as infecções da cabeça representam, em geral, risco maior. Simples problemas dentários e abscessos gengivais podem ser o foco de disseminação de microorganismos que, atingindo as meninges via sangue, desencadeiam a doença. As “espinhas” do rosto contêm microorganismos muito resistentes, como os estafilococos. Quando se “espremem” as espinhas, essas bactérias podem, excepcionalmente, cair no sangue e dirigir-se ao sistema nervoso central, provocando meningite!
Complicações
Quanto mais demorado for o curso da doença, maiores os riscos de complicações, entre as quais: surdez parcial ou total, distúrbios da fala, retardamento mental em crianças, epilepsia.
Conselhos
É imperioso procurar um médico, que procederá a um exame cuidadoso e, se preciso, à coleta do líquido da espinha (LCR), necessária à confirmação do diagnóstico. Deve-se evitar todo contato desnecessário com o doente, dado o caráter contagioso de muitas meningites. Manter o paciente calmo, bem acomodado, combater os vômitos e garantir a boa hidratação, com auxílio de sucos naturais. Mas em muitos casos será inevitável a alimentação parenteral (com soro).
Prevenção
Primeiramente, é preciso manter a saúde em alta, o que garante bons níveis de resistência orgânica contra infecções, das mais banais às mais graves. Isto se consegue pela adoção de hábitos sadios e pelo abandono de maus hábitos e vícios, como enfatizamos em todas as nossas obras. Crianças com tendência a frequentes gripes, otites, bronquites, resfriados, sinusites etc. revelam baixa resistência orgânica. Nas imediações do inverno, quando os níveis de resistência caem ainda mais, as infecções podem aprofundar-se a ponto de se transformarem em meningite. Tais crianças acham-se muitas vezes enfraquecidas por maus hábitos crônicos, como alimentação de péssima qualidade, que inclui doces, guloseimas e o consumo exagerado de laticínios e chocolate.
Para crianças que sofrem frequentemente de gripes e outras afecções respiratórias, indicamos o uso de equinácea, à venda em casas de produtos naturais.
Embora não se conheçam os mecanismos exatos de transmissão da meningite, é prudente evitar contatos desnecessários com o doente. As bactérias causadoras da meningite convivem normalmente com o ser humano, na nasofaringe, e o meio pelo qual elas chegam às meninges não é ainda bem conhecido. Sabe-se que a via principal é o sangue, e acredita-se que essa migração ocorra como resultado de queda de resistência ou de trauma. Infecções hospitalares também podem redundar em meningite.
A meningite meningocócica é, reconhecidamente, uma das mais contagiosas.
Outros tipos de meningite
Há também a meningite viral, provocada por inúmeros vírus, cujos sintomas se assemelham aos da meningite bacteriana. O vírus da caxumba, da psitacose, da hepatite infecciosa e o do sarampo podem, em alguns casos, provocar meningite. Só o exame do líquido cefalorraquidiano pode fazer a diferenciação, pois revela culturas bacterianas estéreis no caso da infecção viral. Esse tipo de inflamação das meninges geralmente é benigno, e não deixa seqüelas.
Fungos e protozoários, como a ameba, também podem atingir as meninges e infectá-las.
A meningite asséptica (não relacionada a microorganismos) pode estar associada a células malignas, a drogas, a agentes para testes diagnósticos e a doenças como a sarcoidose, o lúpus eritematoso sistêmico e a endocardite bacteriana.
No começo, não era mais que uma dorzinha de ouvido. Joãozinho, com 3 anos recém-completados, reclamava de dor de garganta, dor de ouvido, e perdeu o apetite. A febre não ultrapassava os 38° C. Mas assim que houve pequena melhora, o gurizinho, que já não agüentava mais ficar na cama, fugiu sorrateiramente para a rua e foi “tirar os atrasos”, brincando com os amiguinhos. Envolvidos com os afazeres domésticos, os pais não notaram que o peraltinha escapulira, nem que o tempo mudava rapidamente. Logo desabou forte temporal, e perceberam que o menino estava na rua. Não demorou a chegar, correndo, ensopado, gracejando. Todos ficaram apreensivos. Mas parecia não haver motivo para maiores preocupações, até que Joãozinho começou a ter fortes arrepios de frio. Foi para a cama e já apresentava sinais de febre. À noite, o termômetro indicava 39,5° C. No dia seguinte, além de a febre persistir, surgiram sintomas novos, preocupantes: fortes dores de cabeça, que se concentravam na nuca, e que aumentaram até o ponto de o menino se retorcer de dor, assumindo estranha posição, com os membros e a cabeça recurvados para trás. Não aceitava comida. Tinha náuseas e vomitava. Finalmente surgiram convulsões. Alarmados, os pais o levaram correndo ao médico, que, depois de cuidadoso exame, alertou-os para o risco de meningite, que foi confirmada com a análise do líquido da espinha. Joãozinho teve de ficar internado, pois seu caso se agravara. Felizmente, após semanas de tratamento intensivo, foi considerado fora de perigo.
Tratamento
O tratamento requer hospitalização, dados os riscos envolvidos. Quando se constata meningite bacteriana, é necessário tratamento com antibióticos, devidamente acompanhado pelo médico. No caso de meningite viral, procede-se ao tratamento geral, com vistas ao aumento da resistência orgânica. Ajudam o tratamento convencional os seguintes procedimentos, que só devem ser adotados com permissão médica:
1. Durante os períodos febris, abundância de sucos (por exemplo, suco de laranja na centrífuga, de três em três horas).
2. Uso de água com limão e própolis várias vezes ao dia. Os naturopatas indicam pelo menos 120 gotas de solução de própolis a 30%, divididas ao longo do dia, juntamente com líquidos.
3. Chás de plantas que combatem a febre e aumentam a resistência do organismo, como alecrim, equinácea, tanchagem, hortelã, erva-doce, alfavaca. Usar em pequenas doses (cerca de 100ml, três ou quatro vezes ao dia; ferver e filtrar uma colher, das de chá, para cada 100ml de água). A equinácea é, aliás, citada pelo King’s American Dispensatory contra a meningite.
4. Havendo infecções paralelas, como amigdalite, tratá-las simultaneamente.
5. Se o intestino está preso, ou há “fermentação” intestinal, os naturopatas recomendam o uso de lavagem (clister) com pelo menos um litro de água fervida, fresca.