
Pielonefrite aguda
Trata-se de uma infecção aguda do trato urinário, que afeta especificamente o rim (ou os rins). Muitas vezes, a infecção atinge também a bexiga (cistite). Pode ser assintomática (sem sintomas), ou apresentar os sinais clínicos descritos a seguir.
Na maioria dos casos, o exame bacteriológico de urina indicará infecção quando a contagem de bactérias for superior a 105 germes por mililitro de urina corretamente colhida.
É comum ocorrerem recidivas (recaídas), provocadas por sucessivas reinfecções ou infecções não resolvidas. Assim, uma ou duas semanas após o término dos tratamentos e o desaparecimento dos sintomas, o quadro pode reinstalar-se. Há situações em que, pela queda de resistência e por tratamento inadequado, a pielonefrite se cronifica, prolongando-se por muito tempo.
Tendo em vista a continuidade anatômica do sistema urinário e a semelhança entre os sintomas de infecção dos seus vários componentes, alguns estudiosos chamam de “síndrome uretral aguda” as diversas disfunções urinárias de fundo infeccioso.
Mais comum em mulheres
As infecções urinárias são mais comuns em mulheres devido, em parte, às condições anatômicas do sistema gênito urinário feminino. Os homens contam com a proteção do líquido prostático, antibacteriano. Estudos mostram que 20% das mulheres adultas (em qualquer idade) sofrem cada ano de disúria (distúrbios urinários).
Os homens dificilmente têm infecção significativa do trato urinário antes dos 45 anos, a não ser que haja anormalidades urológicas. Uma dessas anormalidades é a hipertrofia da próstata, que obstrui o canal da urina e favorece as infecções.
É interessante notar que mulheres com certas alterações de flora vaginal são mais vulneráveis a infecções urinárias. Quando a vagina e a uretra (canal da urina) encontram-se colonizadas por bactérias gram-negativas do intestino, as síndromes uretrais agudas instalam-se com relativa facilidade. Essa colonização anômala ocorre, em parte, devido à proximidade entre o ânus e a vagina. Mas acredita-se que a queda de resistência imunitária sistêmica e local, com simultânea alteração de flora, predispõe ao quadro. Algumas mulheres exibem infecções urinárias que podem ser associadas ao ato sexual, pois o trauma mecânico do coito pode propiciar a passagem de bactérias à bexiga. A promiscuidade sexual é, sem dúvida, fator de risco para múltiplas infecções, pois é um dos meios por que os agentes de doença encontram fácil acesso ao organismo.
Durante a gravidez, as infecções sintomáticas são particularmente comuns. Considerando que esses distúrbios oferecem riscos ao bebê, é preciso preveni-los e tratá-los devidamente. O aumento da mortalidade neonatal e de casos de nascimentos prematuros podem ser resultado de infecções urinárias durante a gestação.
Os germes que infectam o sistema urinário
Inúmeros microrganismos podem infectar o sistema urinário. Os mais comuns, entretanto, são os bacilos gram-negativos. A Escherichia coli causa até 90% das infecções agudas. Também podem ser encontrados Proteus, Klebsiella, Enterobacter, Serratia e Pseudomonas, presentes em infecções não complicadas, mas que se tornam motivo de preocupação em infecções recorrentes, doenças obstrutivas, cálculos, traumas, manipulações cirúrgicas e diagnósticas. São um achado constante nas infecções hospitalares, e encontram-se associados a instrumentações como o cateterismo.
O Staphylococcus saprophyticus é digno de nota nas infecções agudas em mulheres jovens. A Chlamydia trachomatis ocorre comumente em casos que, apesar da baixa contagem bacteriana, há pus na urina (piúria).
Os vírus podem favorecer a infecção bacteriana. Alguns adenovírus vêm sendo responsabilizados por cistites com sangramento.
Obstruções urinárias
Qualquer obstrução à passagem da urina facilita a ação das bactérias e as doenças infecciosas. Entre as causas de obstrução, podemos citar o cálculo, a hipertrofia da próstata, a estenose (estreitamento do canal), ou algum tumor. Quando se somam obstruções a infecções, os rins correm sério perigo, e impõe-se tratamento cuidadoso. Os especialistas, entretanto, alertam para o risco de cirurgias desnecessárias, que podem agravar ainda mais a situação. É o caso de pequenas obstruções, que não exibem o risco de progredir e não afetam significativamente a função renal. A tentativa de corrigir tais obstruções expõe ao risco de lesões e infecções.
Mau funcionamento da bexiga
A bexiga é formada por um envoltório muscular que deve responder a estímulos nervosos assim que ela contiver certo volume de urina. Mas há algumas doenças em que esses estímulos nervosos falham, e a bexiga se enche em demasia, ocasionando desconforto e dificuldade de urinar. É o caso da esclerose múltipla, da lesão da medula raquiana, da tabes dorsal, do diabetes etc. Para drenar a bexiga usam-se sondas, que favorecem infecções do trato urinário. A permanência prolongada de urina na bexiga, também favorece infecções. Doenças causadoras de desmineralização óssea, como aquelas que exigem grande permanência na cama, provocam hipercalciúria (eliminação excessiva de cálcio pela urina), formação de cálculos de cálcio, obstrução (uropatia obstrutiva) e infecção.
Refluxo de urina e outras doenças renais
Algumas anormalidades anatômicas podem fazer com que certa quantidade de urina retorne da bexiga para os ureteres, favorecendo uma infecção como a pielonefrite. A cistouretrografia miccional é o teste que revela a ocorrência de refluxo.
Certas doenças que envolvem os rins podem tornar esses órgãos mais sujeitos a infecções. Exemplo disso é o diabetes melito, a gota, a nefrocalcinose, a drepanocitose, a hipercalcemia e a hipocalemia (diminuição do potássio no sangue).
Diabetes melito e infecções urinárias
Os rins de diabéticos estão sujeitos a graves lesões vasculares e glomerulares. Isso parece favorecer a ocorrência de infecções como a pielonefrite. A presença de açúcar na urina (glicosúria) é irritante para o trato urinário feminino, predispondo à infecção de bexiga.
As infecções urinárias em diabéticos agravam o distúrbio metabólico verificado nessa doença, e podem levar a uma acidose diabética.
A ocorrência de infecção urinária em diabéticos merece cuidados adicionais, pois os riscos são muito maiores que para um paciente renal não diabético.
A necrosante, doença renal fulminante, que ocasiona insuficiência renal aguda, é mais comum em diabéticos, e pode resultar de infecção. Remédios à base de fenacetina (analgésicos) podem lesar as papilas renais e causar esta grave doença em pessoas mais suscetíveis. Estudiosos alertam que esse tipo de efeito deletério de drogas acontece com maior frequência do que se imagina. É preciso refletir seriamente sobre os riscos das drogas, preferir evitá-las e usá-las só quando absolutamente indispensáveis, com pleno conhecimento de causa e responsabilidade.
Infecções urinárias sexualmente transmissíveis
Certos agentes microbianos, como o C. trachomatis e o Neisseria gonorrhoeae, são transmissíveis sexualmente, e podem produzir sintomas característicos de infecção urinária, como pus na urina, ardor à micção etc.
Sinais e sintomas
Cerca de metade dos pacientes com infecção urinária não apresenta sintomas. Entre os que apresentam sintomas e o sinal característico de bactérias na urina em grande quantidade, cerca de metade tem infecção na parte alta do aparelho urinário (pielonefrite), e metade na bexiga (cistite).
Os sintomas de cistite e pielonefrite são semelhantes. Vão de ligeiro incômodo a extremo desconforto. Há a sensação constante de vontade de urinar. A micção é difícil, e provoca ardor (disúria). Geralmente, há febre, arrepios e dores na região pélvica (parte de baixo da barriga) e lombar (costas). A febre na pielonefrite é geralmente alta (39,4º C ou mais), e há também náuseas, vômitos e diarreia, dores musculares, taquicardia. Pode haver hematúria (sangue na urina) e/ou piúria (pus na urina). A compressão profunda do abdome provoca dor aguda.
Esses sintomas costumam regredir em poucos dias, mesmo sem antibióticos, exceto em casos de obstrução urinária ou necrose papilar. Quando a febre custa a baixar e persiste por vários dias, pode tratar-se de pielonefrite grave.
Pielonefrite crônica
Trata-se de inflamação crônica do rim, resultante de infecção, e ocorre com mais frequência em pacientes com doenças urinárias obstrutivas (como a prostatite, na presença de cálculos), refluxo vesicouretral (da bexiga para os ureteres) e problemas mecânicos de bexiga (dificuldade de esvaziar a bexiga). Quando as infecções urinárias se repetem constantemente, há indícios de comprometimento da função renal, urina com grande quantidade de bactérias. Com o desenvolvimento da doença, verificam-se alterações patológicas na estrutura dos rins, que se mostram pequenos e com contornos irregulares. Um dos sintomas não citados, que pode ocorrer, é a hipertensão. Durante infecções agudas, pode ocorrer comprometimento da função renal a ponto de instalar-se a uremia (os rins eliminam mal várias substâncias, e o corpo fica envenenado por seus próprios dejetos). Mas, passada a fase aguda, o paciente geralmente se recupera.
Conselhos
A mais rigorosa higiene genital e sexual, mormente no caso de mulheres, é importante à prevenção de infecções urinárias. Os diabéticos devem redobrar os cuidados. O hábito de só urinar quando a bexiga está bem cheia é nocivo à saúde, pois propicia infecções e outras doenças.
O uso abundante de líquidos, a alimentação correta, os exercícios físicos moderados e o uso de roupas adequadas, não apertadas, são conselhos úteis à prevenção. Contraindicam-se bebidas alcoólicas, fumo e alimentos condimentados. Há suspeitas de que a sacarina (adoçante) pode causar danos à bexiga.
As recaídas constantes requerem exame mais profundo do problema. Deve-se estudar a possibilidade de cálculos, problemas obstrutivos, prostatite e/ou baixa resistência orgânica.
Sugestão de dieta preventiva
Na fase aguda, no verão, substituir uma refeição (desjejum ou jantar) por melão, laranja-lima, lima-da-pérsia, maçã ou melancia. No inverno, pode-se tomar caldo de maçãs cozidas com torradas. Nos intervalos, bastante líquido (por exemplo, água-de-coco). Sugestão de almoço: Começar com um pouco de suco de cenoura com vagem tenra. Abóbora bem cozida com saladas cruas (pode-se usar salada de cenoura com broto de soja), outros legumes, como chuchu, brócolis ou vagem, e algumas torradas de pão integral (torradas sem sal ou com muito pouco sal) ou arroz integral. Usar o mínimo de sal. Adotar esse regime até desaparecerem os sintomas. Se houver febre, é melhor adotar regime de sucos (suco de maçã e laranja-lima).
Pode-se adotar, regularmente, para prevenir recaídas, dieta naturista, leve, também com uso moderado de sal.
Banhos e outras aplicações
Os banhos quentes de assento e os escalda-pés ajudam a aliviar as dores (não devem, entretanto, ser muito quentes). Aplicações de argila misturadas com água morna no abdome são úteis para aliviar as dores na fase aguda.
Fora da fase aguda, banhos vitais e genitais são úteis para aumentar a resistência do sistema gênito urinário. No caso de infecções vaginais, irrigações diárias com o decocto filtrado de barbatimão e jequitibá (casca) são recomendadas pelos terapeutas naturistas.
Era a primeira gravidez de Cristina. Tudo parecia transcorrer bem. Lá pelo 5º mês, entretanto, surgiram sintomas inesperados. De um momento para o outro, começou a sentir-se um pouco indisposta. O termômetro revelou febre. Mas não havia qualquer sintoma de gripe. Que poderia ser? Cristina perdeu completamente a fome, e começou a sentir náuseas. Parecia problema digestivo. Mas não era. A indisposição foi crescendo, a ponto de exigir cama. Começaram a surgir dores nos músculos e uma dorzinha incômoda e profunda na parte de baixo da barriga. Quando foi ao banheiro para urinar, a dor tornou-se insuportável. A urina custava para sair, e ardia. Depois, surgiram alguns vestígios de pus na urina. Foi aí que Cristina suspeitou pela primeira vez de “problema urinário, talvez cólica”. Ligou para seu marido, que, sem hesitar, largou os compromissos e veio para levá-la ao médico. Procedeu-se imediatamente a uma cultura de urina, que revelou grande quantidade de bactérias.
— Algo perigoso? — perguntou, preocupado, o marido de Cristina.
— Os exames revelaram infecção urinária por bactérias. Ela vai ficar em observação nas próximas horas. — explicou o médico.
— Há algum perigo para a criança?
— De imediato não, mas precisamos manter a infecção sob controle e eliminá-la completamente.
Felizmente, como acontece na maioria das vezes, a infecção, que era uma pielonefrite aguda, regrediu em poucos dias, sem ocasionar maiores problemas.
Alimentação
Ingerir bastante água, especialmente água mineral magnesiana, é recomendável, pois diminui a concentração de bactérias na urina. Chás especiais e própolis, como veremos adiante, também são úteis.
Pimenta, molhos, temperos, conservas, embutidos, frios, alimentos salgados, refrigerantes, café, carnes, frituras, guloseimas, chocolate, açúcar e frutas cítricas devem ser evitados, principalmente na fase aguda. Os laticínios, especialmente o queijo, também devem ser evitados na fase aguda. Entre os vegetais, contraindica-se o tomate, os temperos fortes e o agrião, na fase aguda.
Plantas
As plantas não devem suprimir a avaliação médica. Tradicionalmente, sugerem-se:
Alfavaca, camomila, cana-do-brejo, folha de abacate, cabelo de milho, cavalinha, carqueja, dente-de-leão, uva-ursina e quebra-pedra. Misturar as plantas disponíveis, cozinhar por uns três minutos, filtrar e tomar de três a quatro xícaras ao dia, longe das refeições, conforme critério médico. A dosagem tradicional é de duas colheres, das de sopa, das plantas misturadas para meio litro de água. Podem-se acrescentar de cinco a dez gotas de própolis a 30% em cada xícara de chá.
Gestantes não devem tomar chás de plantas medicinais sem permissão médica.
Você sabia?
Parietária (Parietaria officinalis)
É tradicionalmente indicada para combater inchações, doenças reumáticas, desordens dos rins etc.
Modo de usar: Ferver em ½ litro de água 2 colheres, das de sopa, das folhas. Tomar de 1 a 2 xícaras por dia. As folhas, torradas e reduzidas a pó, são usadas no tratamento local.